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A MEDIAÇÃO COMO INSTRUMENTO DE PREVENÇÃO DE CONFLITOS JUDICIAIS NO AMBIENTE CORPORATIVO

                    Fernanda Rodrigues Feltran*

O ambiente empresarial é propenso a conflitos profissionais que podem gerar impactos negativos no desempenho organizacional. A mediação corporativa surge como uma alternativa eficaz para a resolução de controvérsias, especialmente quando se trata de solucionar temas e disputas internas de compliance concernentes a ética, governança, assédio moral e sexual, inclusão e correlatos jurídicos. A partir da Resolução Extrajudicial de Conflitos no ambiente corporativo, consubstanciada em palestras e treinamentos preventivos e gestão de diálogos, estratégias benéficas podem ser alcançadas na prática da mediação dos conflitos visando boas práticas nas relações organizacionais. Uma nova postura de mediação que enseja a compreensão sistêmica e complexa das controvérsias e alcança resultados exitosos frente aos embates relacionais, de forma humanizada e estratégica, evitando processos judiciais.

Conflitos internos de diferentes ordens podem gerar impactos negativos no desempenho organizacional, como atrasos em projetos, perda de clientes, desmotivação de colaboradores, questões de compliance, prejuízos financeiros, disputas sociais, jurídicas internas e externas de natureza variada (éticos, relacionais, trabalhistas, morais, hierárquicos, sociais), que implicam consequências de diferentes ordens, desde divergências na interpretação de contratos até desacordos nos negócios, desligamentos e rompimentos com fornecedores.

Um ponto fundamental comum gera intersecção nos conflitos: ausência de diálogo e aperfeiçoamento da inteligência emocional dos colaboradores, líderes, sócios e gestores. A comunicação é o centro em torno qual gravitam grande parte das controvérsias internas corporativas.

Questões relacionadas a pertencimento, inclusão, assédio que, muitas vezes, nascem de posturas profissionais contraditórias, agressivas e não-inclusivas acabam ensejando reclamações trabalhistas, investigações internas, indenizações morais, desligamentos, e afastamentos temporários por doenças emocionais, prejudicando o sistema organizacional como um todo.

A má gestão das emoções se destaca como grande vilã da produtividade, saúde mental, comunicação produtiva, engajamento e performance colaborativa, provocando conflitos pessoais, relacionais e jurídicos dentro de uma empresa. Desafio organizacional que faz aumentar o número de demissões, turnover, desligamentos, licenças e controvérsias jurídicas internas carregadas de cargas emocionais tóxicas expressadas em um novo estilo de comunicação agressivo e improdutivo que acaba desaguando em um mar de processos, sejam eles administrativos de compliance ou judiciais.

Ocorre que nem sempre o real conflito organizacional é expresso ou captado com clareza e objetividade dificultando a atuação dos mediadores corporativos que, quando solicitados para facilitar extrajudicialmente a solução da controvérsia, produzem atuação superficial que gira em torno apenas do que é dito pelas partes, sem, contudo, alcançarem os reais conflitos sistêmicos que motivaram a contenda e que permeiam, muitas vezes, a equipe inteira e a empresa.

Fatores invisíveis e emocionais que deixam de ser postos em uma mesa de mediação corporativa e seguem prejudicando a harmonia e o engajamento profissional. Nota-se, então, a necessidade de desenvolvimento de uma expertise técnica e jurídica que permita ao facilitador(a) ou advogado da empresa operar de forma expandida, alcançando também informações que estão no ambiente corporativo, porém, que não são ditas com clareza pelas partes. Uma nova habilidade comportamental que ajuda as equipes a tomarem uma postura profissional equilibrada, amistosa, de escuta e visão ampliadas, e desenvolvida de forma sistêmica para prestar uma observação expandida diante da controvérsia apresentada.

Ressalte-se que o desequilíbrio emocional de muitos colaboradores de perfil corporativo se instalou no mundo, e vem aumentando no ambiente pós-pandêmico, impactando pessoas, gerando consequências diretas nas empresas e escritórios. Constatou-se um crescente número de suicídios – segundo o psiquiatra Humberto Müller, de Rondônia, acontecem 16 milhões de tentativas por ano no mundo. “No Brasil, acontece uma morte por suicídio a cada 45 minutos, mas para cada morte temos outras 20 tentativas. Os números são altos e preocupantes” (AGÊNCIA CÂMARA DE NOTÍCIAS, 2021. s. p.)

As pessoas estão mais sensíveis e aguerridas. A comunicação está curta e improdutiva. E o trabalho é o lugar onde todos os conflitos internos de um colaborador se misturam com os conflitos internos dos outros colaboradores gerando agressividade, assédio moral e violência, gerando demissões, alta rotatividade, baixa no atendimento ao cliente e problemas de relacionamento com fornecedores, que, por conseguinte, tornam-se questões de ordem judicial trabalhista, consumerista, cível, societária, entre outras searas contenciosas.

Tanto é verdade que o Brasil está mais beligerante e concentra um alto número de processos judiciais em trâmite. Segundo o CNJ (Conselho Nacional de Justiça), tramitam pelo Poder Judiciário atualmente 80 milhões de processos judiciais (CNJ, 2022).

Reclamações trabalhistas oriundas de ofensas morais, processos por assédio sexual e moral, investigações em processos de compliance, racismo, violência de gênero, machismo, agressividade no ambiente de trabalho, contratos não cumpridos e reclamações de consumidores são exemplos pontuais que não esgotam as consequências jurídicas e judiciais advindas da desorganização emocional corporativa mundial.

Ressalta-se o aumento do número de desligamentos voluntários. Segundo a Revista Exame, depois dos EUA, a chamada ‘grande renúncia’ de demissões voluntárias chega ao Brasil. Mais de 600 mil trabalhadores brasileiros deixaram o emprego em março; nos EUA, foram 4,5 milhões de americanos (EXAME, 2022). Dentre as justificativas para os pedidos de desligamentos estão, entre outras, questões relacionadas à saúde mental, controvérsias e agressividade de líderes e gestores, assédio e necessidade de maior realização pessoal.

 Os impactos humanos, sociais, jurídicos e judiciais experienciados no ambiente corporativo ultrapassam a abordagem jurídica convencional e exigem um novo formato de solução de conflitos que, efetivamente, contemple, previna e solucione tais controvérsias que certamente vão se tornar judiciais.

E, para que que se possa aprimorar suas competências pessoais de engajamento e resolução do conflito interno havido no ambiente corporativo prevenindo que se torne judicial e contencioso é imperiosa a orientação da mediação como meio de comunicação entre as partes em que um terceiro possa orientá-las por um caminho dialogado rumo ao alcance da pacificação.

Isto porque, no ambiente organizacional, os advogados, facilitadores e mediadores(as) corporativos somam expertise técnica de abordagem dos fatos e aprimoramento científico, mas também a compreensão do conflito a partir do todo empresarial subdividido e dos fatores emocionais e disputas internas que também estão norteando a controvérsia, sem, contudo, serem clarificadas.

O ponto de partida da Mediação deixa de ser somente a voz autônoma de quem narra o problema na mesa de mediação mas a capitação a partir da postura, autoconhecimento, preparo anterior e comunicação verbal, gestual e visual das informações que permeiam o memorial envolvido naquele conflito e as consequências geradas facilitando, por conseguinte, um diálogo amistoso em que as partes possam protagonizar a resolução da controvèrsia apresentada com satisfação pessoal.

 

*Fernanda é sócia no escritório Feltran Angeli, Advogada e Mediadora Corporativa. Mestra em Direito (PUC-SP). Professora e Palestrante especialista na área de Resolução Extrajudicial de Conflitos Empresariais.

 

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